Mesmo afastado formalmente das urnas por conta de sua inelegibilidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito questão de reforçar que ainda é uma das peças mais influentes do xadrez político nacional. Com declarações incisivas, o líder da direita brasileira voltou a afirmar que será candidato – não no sentido literal, mas como articulador, cabo eleitoral e símbolo de um projeto político que se recusa a sair de cena.
A mensagem transmitida é clara: Bolsonaro pretende manter o controle sobre a narrativa da direita, escolher seus representantes nos pleitos futuros e influenciar diretamente o voto do seu eleitorado fiel. Em sua visão, mesmo sem estar na cédula, sua ausência teria um peso significativo no resultado eleitoral, como ao sugerir que, sem ele, Lula “ganha a eleição”.
A fala, embora polêmica, ilustra a estratégia do ex-presidente de permanecer em evidência e tensionar o cenário político. Ao se colocar como indispensável para equilibrar as forças eleitorais, Bolsonaro tenta demonstrar que ainda detém o capital político necessário para mobilizar milhões de brasileiros, especialmente nas redes sociais e nas ruas.
Além da retórica, o ex-presidente vem atuando na articulação com figuras do alto escalão da direita e estreitando laços com partidos e movimentos conservadores. Sua presença constante em eventos públicos, visitas a redutos bolsonaristas e entrevistas fazem parte de uma agenda cuidadosamente pensada para manter viva a sua imagem e reaquecer a base ideológica que o sustentou no poder.
A insistência em reiterar sua candidatura – mesmo que simbolicamente – também serve como instrumento de pressão. É uma forma de preparar o terreno para o lançamento de um nome apadrinhado que represente o “espírito” bolsonarista e herde seu eleitorado, possivelmente um ex-ministro, um militar ou até mesmo um membro da própria família.
Para os adversários, a atitude de Bolsonaro é provocativa e inquietante. Para seus aliados, é sinal de que o movimento continua vivo. E para o eleitorado em geral, representa um prenúncio de que as próximas eleições estarão novamente marcadas por uma polarização intensa.
Entre os bastidores e as ruas, o ex-presidente joga com a ambiguidade entre estar fora do pleito e, ao mesmo tempo, ser parte central dele. Ele não apenas desafia as limitações impostas pela Justiça Eleitoral, mas transforma sua própria inelegibilidade em palanque.
No fundo, Bolsonaro parece apostar em uma máxima que tem norteado sua trajetória política: ser protagonista, mesmo sem estar em cena oficialmente. E nisso, tem sido bem-sucedido.