Mais reflexões e menos frases ativistas. Assim está o aguardado disco “Meio
que Tudo É Um” da banda Apanhador Só, que faz show de lançamento do álbum
nos dias 16 e 17 de agosto, no Festival Levada 2017, na Casa de Cultura
Laura Alvin, em Ipanema. A Apanhador Só apresenta ao público um trabalho
diferente no qual os sons que compõem as músicas incluem o pipilar dos
pássaros engaiolados no Mercado San Juan de Dios, em Guadalajara; molho de
tomate fervendo, surdo, xícara, latinha, pote, beijinhos, estalos de língua,
tamborim, a chuva de um desenho animado japonês… Há também o barulho de
ventiladores de escola de yoga, facas, guitarra, violão, violoncelo. Nada
escapou, nem mesmo a ambiência interna de avião durante decolagem rumo a
Medellín.
Essa é a primeira vez que o Apanhador Só se apresenta no palco do Festival
Levada, que neste ano chegou a sua sexta edição e tem como missão difundir a
música autoral e independente, fazendo circular o que há de mais novo na
cena do país trazendo ao Rio de Janeiro artistas de várias regiões do
Brasil. Em julho, os shows foram realizados na Tijuca, no Centro da Música
Carioca Artur da Távola. Agora, chegou a vez de Ipanema entrar no circuito
indie nacional num evento que tem a produção e direção geral de Júlio Zucca,
curadoria de Jorge Lz e patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, da
Secretaria Municipal de Cultura e da Oi – por meio da Lei de Municipal de
Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro – Lei do ISS. Os ingressos têm preços
populares: R$ 20 e meia a R$ 10.
Meio que Tudo É Um tem a reflexão de que as coisas têm mais de um lado, por
isso, o discurso da banda chega ao público menos revoltado. Tem menos
guitarra e mais violão e percussão. A nova postura não é uma negação do
passado, mas uma “atualização”, conforme diz Alexandre Kumpinski (voz,
violão e guitarra), que toca junto com Felipe Zancanaro (guitarra, bateria,
sampler e percussão) e Fernão (baixo, teclados, lira e percussão), que
ganham, ao vivo, os reforços de Diego Poloni (guitarra e teclados) e Bruno
Neves (bateria e percussão).
E para a felicidade dos fãs, o grupo já disponibilizou o “Meio que Tudo É
Um” nas plataformas digitais, que também pode ser baixado gratuitamente no
site apanhadorso.com. A versão em CD será vendida a partir do dia 14, por R$
25 (em loja.apanhadorso.com), e o LP, em setembro, por R$ 90. Coube ao
artista Daniel Eizirik a criação da capa e de um caderno de 72 páginas que
acompanha o álbum virtual, o CD e o LP.
O novo disco do Apanhador Só sintetiza os quatro anos que se passaram desde
o Antes Que Tu Conte Outra, de 2013. Expansão, experiências, expectativas.
Perrengues. Shows nos Estados Unidos, México, Colômbia, Uruguai e Costa
Rica. Shows em 25 cidades por todo Brasil feitos, muitas vezes, nas próprias
casas dos fãs. Eleito o melhor álbum de música popular pela Associação
Paulista de Críticos de Arte e pelo Prêmio Açorianos, e indicado ao Grammy
Latino, o LP anterior pode ser visto como um ponto de exclamação.
Agora, nasce a interrogação. “Sol da Dúvida” levanta as cortinas do disco
lembrando que velhos caminhos levam a lugares já conhecidos e que novos
rumos só se abrem com novas perguntas. O fato de o primeiro som que se ouve
no disco ser uma percussão forte demonstra que o universo rítmico da música
brasileira serve de bússola nessa busca. Depois, o coro dissonante que entra
em meio ao caos aponta um desejo de gerar sonoridades estranhamente
harmônicas. A última parte da faixa é uma gravação rústica, chiada e crua de
voz e violão que se mescla a uma sequência cinematográfica de paisagens
sonoras relembrando que a artesanalidade da criação é uma das maiores forças
da banda.
Vale prestar atenção em “Bastas”, que chega como o primeiro ato dedicado
diretamente a uma relação de amor. Harmonizada entre os ruídos dos
sintetizadores de Fernão e a voz e violão de Kumpinski, a faixa trata o amor
como um gesto de admiração plena. Divino por seu caráter profano e realista,
o amor nasce aqui como uma dimensão de luz e sombra onde “erro” é só outro
nome para “aprendizado”, o amor surge como uma prancha que nos permite gozar
do mar a onda e a escuridão. Essa ideia faz a ponte até a faixa seguinte,
“Paso hacia atrás”, que traz a participação das argentinas Lola Membrillo e
Anicca, da banda Perotá Chingó. Flutuando em um coro de vozes celestial, há
um convite a perdoar aos outros e a si mesmo em conciliação com o fluxo da
maré do dia a dia.
Já o senso de coletividade cada vez mais presente na era dos processos
colaborativos vem traduzido no grande número de parceiros que participaram
do trabalho “Pelos Olhos do Mundo”, cuja letra inspirou o título do álbum,
diagnostica certo (uma das canções tem sete compositores e outra tem seis).
Diz a música: “o mundo se vê/ através dos meus olhos/ que não são meus/ eu
vejo o mundo/ pelos olhos do mundo/ meio que tudo é tudo/ meio que tudo é
um”.
Aliás, foi por meio de um financiamento coletivo que a banda conseguiu um
carro que passou a ser utilizado em uma turnê por salas de estar de casas
pelo Brasil. Totalmente independente, o disco foi produzido e mixado por
Diego Poloni, Alexandre Kumpinski, Felipe Zancanaro e Fernão Agra, gravado
entre novembro de 2016 e abril de 2017 no Castelinho do Morro da Borússia,
em Osório (RS), e na sala da casa da Dona Lusa, em Porto Alegre. Uma
curiosidade: a faixa “Linda, Louca e Livre” e a base de “Sol da Dúvida”,
foram gravadas no celular do Alexandre no seu quarto em agosto de 2016.
Meio Que Tudo É Um traz, por fim, vozes mais compartilhado entre o trio.
Fernão assume o canto em Sopro, e Felipe Zancanaro, em Isabel Chove e
Metropolitano. Participam do álbum Dolores Aguirre e Julia Ortiz (da banda
Perotá Chingó), Luiz Gabriel Lopes e Thiago Ramil. A banda submeteu o disco
a um processo de “desmixagem” para tornar o resultado mais próximo do clima
da casa de madeira antiga em Osório (RS) onde foi gravado. O resultado, na
verdade, é extremamente sofisticado.
REDES SOCIAIS
. FESTIVAL LEVADA
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SERVIÇO
FESTIVAL LEVADA apresenta APANHADOR SÓ
LANÇAMENTO DO CD – ” Meio Que Tudo É Um”
DIAS 16 e 17 DE AGOSTO | QUA e QUI | 20h
Casa de Cultura Laura Alvim – Av. Vieira Souto, 176, Ipanema.
Telefone: (21) 2332-2090
INGRESSOS*: R$20,00 | R$10,00
Dica: Metrô Estação General Osório
(cerca de 5 minutos a pé da estação ao local)